Oriana Fallaci publicou Un Uomo em 1979, o que significa que o terá escrito entre 1977 e 1978, ainda era fresca a memória da morte de Alekos Panagulis. Mais importante, ainda eram frescas as ameaças de morte dos que a queriam impedir de investigar o modo como a política grega o fez em farrapos para no final se desfazer deles. O livro não seria tão vibrante e intenso se não tivesse sido escrito a quente, com amor e raiva à mistura. Só com esses extremos poderia ser retratado um herói bipolar que, apesar da inconstância, foi absolutamente fiel a si mesmo em algo fundamental: na luta contra o autoritarismo dos pais do povo – uns hoje, outros amanhã.
Não se vergou no essencial apesar dos tormentos e das sevícias. Mas acabou só, como começou, cercado de gente sem força para exigir a verdade e a ética. Por isso se queixou: “Vós, túmulos ambulantes / insultos viventes da vida / assassinos do vosso pensamento / fantoches de forma humana / Vós que invejais os animais / que ofendeis a ideia do criado / que procurais refúgio na ignorância / que aceitais como guia o medo / Vós que esquecestes o passado / que vedes o presente com olhos embaciados /que não tendes interesse pelo futuro / que apenas respirais para morrer / Vós que tendes mãos apenas para aplaudir / e que amanhã aplaudirais / com mais força que todos como sempre / como ontem e como hoje / Sabei então vós / desculpas vivas de toda a tirania / que odeio tanto os tiranos / como sinto nojo de vós / E dos sacanas dos vossos automóveis”.